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“Existem novas formas de dependência e colonialismo na Era da Inteligência Artificial”, afirma Cecília Rikap, especialista em economia política internacional da ciência e tecnologia.

Ciro Neves

 
A aula da doutora argentina Cecília Rikap sobre "O poder das corporações na era da Inteligência Artificial (IA) e da Nuvem" trouxe à tona uma discussão profunda sobre o impacto do uso de dados e as implicações das nossas escolhas cotidianas. A cada vez que utilizamos serviços como iFood ou Uber, nos tornamos parte de um vasto mapa de dados que alimenta grandes empresas de tecnologia, permitindo-lhes monitorar, prever e até influenciar nossos comportamentos.  

“Até pequenas escolhas acumulam um poder significativo nas mãos de gigantes tecnológicos, moldando um novo tipo de dependência”, relatou Cecília Rikap, especialista em economia política internacional da ciência e tecnologia, presente à Escola Nacional de Administração Pública (Enap), nesta sexta-feira (2), como parte do Programa Fronteiras e Tendências - Novos Rumos da Escola. Com experiência internacional em pesquisa e ensino, a doutora trouxe uma visão abrangente sobre a crescente concentração de ativos intangíveis e o surgimento de monopólios intelectuais, além das tensões geopolíticas resultantes dessa concentração.

O público de mais de 80 pessoas presentes na sala Nexus se questionou por que grandes corporações como McDonald's e Coca-Cola dependem das infraestruturas de nuvem de três grandes empresas: Google, Microsoft e Meta. Cecília Rikap destacou o conceito de colonialismo digital, explicando como o controle e a extração de valor estão concentrados em poucas mãos, exacerbando desigualdades globais e criando novos monopólios intelectuais. “Corporações transnacionais utilizam a IA para ampliar seu poder e influência, muitas vezes em detrimento da soberania tecnológica e econômica de outros países”, afirmou a pesquisadora. De acordo com Rikap, essa concentração não apenas limita a competição, mas também transforma a dinâmica global, impondo novas formas de colonialismo e subjugação econômica.

Com a moderação do professor Fernando Filgueiras, especialista em governança digital e novas tecnologias, o debate se aprofundou nas implicações dessas dependências para a administração pública e a sociedade. Filgueiras questinou como essas dinâmicas afetam as políticas públicas e a governança digital.

A abertura do evento foi conduzida por Iara Alves, diretora de Educação Executiva da Enap, e Alexandre Gomide, diretor de Altos Estudos da Enap, ambos reafirmando o compromisso da instituição com a inovação e a formação de servidores públicos capazes de enfrentar os desafios contemporâneos.

A Enap, em parceria com o IIPP/UCL, continua a promover eventos e cursos de alto nível, como o recém-iniciado “New Economic Thinking and Public Value”, reafirmando seu papel de vanguarda na educação executiva para o setor público.