Na noite desta terça-feira (8), a Escola Nacional de Administração Pública (Enap) sediou o lançamento do livro "Políticas Públicas, Valores e Evidências em Tempos de Inteligência Artificial", de Paulo de Martino Jannuzzi.
No evento, mediado pelo coordenador-geral de Pesquisa da Diretoria de Altos Estudos da Enap, Rafael Viana, ficou evidente a importância de uma administração pública fundamentada em valores e evidências. Durante o lançamento, Paulo Jannuzzi enfatizou a necessidade de políticas públicas que sejam não apenas inspiradas por valores públicos sólidos, mas também formadas por um conjunto amplo e robusto de evidências.
"No capítulo 1 eu falo mais ou menos o óbvio: que o Brasil é muito desigual. Do centro da cidade às periferias, as escolas, os postos de saúde são diferentes”, afirmou Jannuzzi, ao detalhar um pouco sobre a obra. “O Brasil reproduz a sua desigualdade cultural em qualquer contexto. Então isso é um pressuposto que precisa estar muito claro para quem desenha e para quem avalia política pública ou faz monitoramento de política pública. Não é possível a gente não considerar essa desigualdade social", analisou.
O autor explicou que trata, no capítulo 2 do livro, de critérios avaliativos ou critérios valorativos que existem na ponte entre a evidência fundamental e os valores públicos, ao se fazer o uso de IA. "Eu percebi que uma parte importante dessas evidências consistentes estavam sendo minadas pelos efeitos da informação algorítmica." "Essa informação veiculada pela mídia social, completamente sem controle, sem qualquer compromisso de fato com esses valores dos últimos 200 anos, resgatam coisas que a gente imaginou que já estava super superadas no passado e não estão."
Paulo Jannuzzi exemplificou como as informações algorítmicas têm sido usadas "para o mal das políticas públicas". "A informação algorítmica afetou as nossas campanhas de vacinação, afetou o programa 'Escola sem homofobia'. Ninguém se lembra desse programa, mas todo mundo vai ser lembrar do 'kit gay' - a alcunha que se criou para descaracterizar, impedir que esse programa pudesse ter um papel importante, de socialização, de diminuir o bullying nas escolas."
Jannuzzi defendeu, no entanto, o uso de ferramentas de inteligência artificial para moldar políticas mais eficazes e inclusivas. "Se a gente não se apropriar dessas ferramentas [de inteligência artificial], realmente nós vamos de novo ser ultrapassados pelos interesses e pelas produções das big techs. Então a gente precisa de fato ter um investimento em Inteligência Artificial, em hardware, em gente que possa formar, investir nisso", avaliou o autor.
"A gente pode, sim, se valer do conhecimento que é produzido, sistematizado [por IA], porque essas ferramentas, quando têm um acervo de aprendizagem e de aprendizado consistente, plural, com produção contínua sendo alimentada, e com acervo curado, podem produzir um conhecimento transdisciplinar, enriquecedor, que, muitas vezes, vão responder a perguntas que sequer a gente imaginaria ou vão dar soluções eventualmente para problemas que sequer tínhamos imaginado anteriormente", concluiu Paulo Jannuzzi.
Ao elogiar o conhecimento transmitido por Jannuzzi, Rafael Viana enalteceu a relevância da experiência do autor em vários órgãos e institutos federais para as conclusões a que ele chega. “O livro deixa muito claro que essa obra é não só um esforço intelectual seu, mas também do seu papel no estado brasileiro.”
O evento foi realizado no âmbito do Projeto Biblioteca do Futuro, uma iniciativa da Enap para democratizar o acesso a recursos acadêmicos e profissionais para servidores públicos. O projeto integra tecnologias avançadas de pesquisa e inteligência artificial para facilitar o acesso a uma vasta gama de informações e estudos essenciais para a administração pública.
Sobre o autor
Além de ser professor da Enap, Paulo Jannuzzi é um renomado especialista em políticas públicas, com uma carreira de mais de três décadas dedicadas ao serviço público e à academia. Doutor em Demografia pelo Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional da Universidade Federal de Minas Gerais (Cedeplar/UFMG), Jannuzzi é professor titular da Escola Nacional de Ciências Estatísticas (ENCE) e já atuou como diretor de estudos e políticas sociais no Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
Ao longo de sua trajetória, Jannuzzi publicou diversos livros e artigos sobre avaliação de políticas públicas, planejamento governamental e uso de evidências na administração pública. Suas contribuições são amplamente reconhecidas tanto no Brasil quanto no exterior, tornando-o uma figura influente na área de gestão pública.